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WAIMIRI-ATROARI

O Projeto Reconecta trabalha em total colaboração com a comunidade indígena Waimiri-Atroari para beneficiar a conservação da biodiversidade e o bem-estar humano em seu território.

O apoio da comunidade é a chave para o sucesso deste projeto, tanto para a execução, como para garantir sua continuidade a longo prazo.

Há mais de 30 anos, o povo Waimiri-Atroari solicita ao governo brasileiro a implementação de medidas de mitigação para reduzir a mortalidade de animais silvestres nas estradas que cortam seu território. Os impactos da estrada sobre a vida selvagem afetam aspectos estéticos, religiosos e culturais de sua comunidade. Além disso, eles consideram os animais mortos por veículos como um desperdício de um importante recurso alimentar fornecido pela floresta.

Entre as atividades do Reconecta que a comunidade indígena colabora, estão:

Pontes artificiais de dossel: os líderes comunitários discutiram e aprovaram os projetos das pontes de dossel por corresponderem às características de locomoção das espécies arborícolas da área de estudo, confirmadas pelo conhecimento ecológico tradicional dos membros da comunidade.

Seleção dos locais para instalação das pontes de dossel: três lideranças da comunidade Waimiri-Atroari escolheram os locais onde foram instaladas as pontes de dossel. Eles escolheram os locais com base no maior número de animais arborícolas encontrados mortos por colisão com veículos na estrada ao longo dos anos. Além disso, também consideraram a proximidade com árvores frequentemente utilizadas para alimentação e abrigo por essas espécies. Alguns locais foram especialmente escolhidos porque o macaco-aranha-de-cara-vermelha foi observado atravessando a rodovia.

Instalação de pontes: mais de 150 membros da comunidade Waimiri-Atroari participaram da construção e instalação de 30 pontes de dossel.

Monitoramento de pontes de dossel: a comunidade é constantemente atualizada em relação aos resultados das pontes de dossel, com informação como quais espécies têm utilizado as pontes e número de indivíduos que realizaram as travessias.

HISTÓRIA

O contato do governo brasileiro com os Waimiri-Atroari, autodenominados povo “Kinja”, foi feito pela primeira vez quando a Rodovia Federal BR-174 foi construída na década de 1970 durante o regime militar no Brasil. Neste período, a política para a Amazônia ficou conhecida pelo lema “Integrar para não Entregar”. Junto com a ocupação e o desenvolvimento da região veio também a destruição da floresta e dos povos indígenas.

A abertura da Rodovia nos estados do Amazonas e Roraima impactou direta e negativamente o povo Waimiri-Atroari e seu território. Foram registrados bombardeios, ataques químicos, biológicos e muita violência por parte dos militares que culminou na morte de mais de 3.000 indígenas. Esse conflito é considerado o caso mais grave de genocídio indígena no Brasil, segundo a Organização das Nações Unidas (Corte Internacional de Justiça, Haia, Holanda).

“No coração da Amazônia Central, a Comunidade Indigena Waimiri-Atroari lutou pela sua própria sobrevivência na década de 70, quando na época da Ditadura, o Governo Militar decidiu abrir uma nova Rodovia, a BR-174.”

CONSERVAÇÃO DA AMAZÔNIA

Desde a abertura da BR-174, os indígenas enfrentam seus impactos diariamente, incluindo a mortalidade de animais silvestres causada pela estrada e o efeito barreira para diversas espécies que evitam atravessar as rodovias. Na cultura Waimiri-Atroari (WA), a fauna carrega um importante significado cultural. Por exemplo, o primata sauim-de-mãos-douradas (Saguinus midas) é considerado como membro da comunidade WA, mas em forma de macaco. De modo que a morte desses indivíduos por atropelamento é vista como a perda de um parente.

Desde 1997, o povo Waimiri-Atroari vem coletando dados de atropelamento de animais silvestres ao longo dos 125 km da Rodovia BR-174 que corta seu território. Esta base de dados é, provavelmente, o maior projeto de ciência cidadã envolvendo comunidades indígenas do planeta!

Atualmente, eles já registraram mais de 17.000 atropelamentos, todos os animais foram identificados com nomes comuns em português e em Kinja Iara.

Além disso, a Comunidade Waimiri-Atroari com apoio do Professor Marcelo Gordo da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), criou um método de conectar a copa das árvores em alguns pontos da BR-174. Essas passagens naturais formam túneis florestados que auxiliam na travessia de animais arborícolas. Parte deste trabalho foi demonstrar um sistema de poda menos impactante ao DNIT.

Quando a Rodovia BR-174 foi finalizada, os próprios militares envolvidos na construção da rodovia reconheceram os danos causados à comunidade e à floresta e, assim, instalaram correntes nas entradas do território Waimiri-Atroari, permitindo que a comunidade pudesse restringir o tráfego noturno na rodovia. Essa medida possibilitou maior segurança para o povo Waimiri-Atroari e a diminuição dos atropelamentos durante o período noturno.

Até os dias atuais, o tráfego da BR-174 dentro da reserva é restrito a partir das 18:00 h até as 6:00 h, sendo permitida a passagem apenas de ambulâncias, ônibus, carros oficiais e caminhões transportando produtos perecíveis.

Os Waimiri-Atroari também contam com um sistema de fiscalização intenso dentro de seu território para coibir caçadores, o desmatamento e a mineração ilegal. Além disso, outras equipes se revezam em outras atividades de manutenção na rodovia, como a limpeza de lixo ao longo da via.
O Território Indígena Waimiri-Atroari é considerado um dos mais conservados na Amazônia, tendo uma importância fundamental para proteção dos recursos naturais, da sobrevivência e cultura de seu povo originário.